Autor: Mikhail Bulgakov (Rússia)
Título Original: Морфий (1926)
Editora: 7 Nós
Edição: 1ª Edição, Maio 2010 (64 págs.)
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Morfina começa contando-nos a história de Dr. Bomgard, um jovem médico que, no ano de 1917 é transferido para um hospital menor, de uma capital de província, a fim de cuidar da população local.
No Inverno de 1918 recebe uma carta de um camarada de faculdade – o Dr. Poliakov – informando-o que está a sofrer de uma “grave, sórdida doença” e pedindo-lhe que o visite “o mais depressa possível”.
Bomgard, preocupado com o colega e amigo, prontamente inicia todos os tramites necessários para, no dia seguinte ir ao encontro de Poliakov.
Contudo, ao amanhecer, Bomgard é acordado pela enfermeira, que o informa que “o médico do distrito de Gorielovo (…) deu um tiro de revolver em si mesmo”.
Poliakov fora levado por Maria Vlassievna – uma enfermeira com quem trabalhava – encontrando-se anda vivo quando chegaram ao cuidado de Bomgard. Entregando-lhe um manuscrito, Poliakov sussurrou “O caderno é para si…” antes de mergulhar na eterna obscuridade.
É do conteúdo desse caderno que tratam as páginas seguintes, assumindo-se o mesmo como uma espécie de diário, mesmo que com várias páginas arrancadas.
Ficamos aí a saber que, por uma forte dor abdominal, no decorrer do seu trabalho, Poliakov recebeu, da enfermeira Anna Kirillovna, uma injeção de morfina. Na noite seguinte, Poliakov volta a sentir “uma sombra da dor da véspera” e, preventivamente, auto administra mais uma dose de morfina. “Felizmente que Anna Kirillovna tinha deixado o frasco.”
Percebemos então que, rapidamente Poliakov deixa de usar a morfina para amenizar a dor física, percebendo que esta também lhe amenizava os problemas pessoais e renova sua capacidade de trabalho. Da primeira injeção ao completo vício, vamos acompanhando como os "cristais brancos" lhe devolvem a beatitude que o fazem afastar-se temporariamente das angústias.
Porém, é também rapidamente perceptível que a necessidade de morfina se torna cada vez mais premente, em doses maiores e intervalos mais curtos, levando Poliakov a comportamentos irresponsáveis, pouco éticos, e perigosos.
“Estado melancólico.Não, eu sofro desta horrível doença, previno os médicos afim de que sejam mais caridosos com os seus pacientes. Não é um “estado melancólico”, mas uma morte lenta que se apodera do morfinómano se o privam, uma ou duas horas que sejam, de morfina” (pág. 42).
Na presente edição, temos, a partir da página 63 um resumo da “Vida de Mikhail Bulgakov” onde é fácil traçar um paralelismo entre a vida do autor e da personagem Poliakov.
Desta forma, percebemos que Morfina é também uma história autobiográfica uma vez que o próprio Bulgákov, também médico, e a exercer num lugarejo rural, foi viciado em morfina em sua juventude. A sua primeira esposa, Tatiana Lappa, foi de extrema importância para ajudá-lo a superar a dependência, sendo considerada uma inspiração para a personagem Anna, em Morfina.
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