Autor: Joël Dicker (Suíça)
Título Original: Le Tigre (2005)
Editora: Alfaguara
Edição: 1ª Edição, Outubro 2021 (59 págs.)
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Este conto assume-se como o primeiro trabalho de Joël Dicker, escrito aos dezanove anos e enviado para um concurso literário. Acontece que o manuscrito nem sequer foi considerado para concurso, sendo que o júri viria a confessar ter duvidado que alguém tão jovem pudesse ser o autor daquele texto.
Este já é um ponto de partida interessante para indicar a qualidade do texto e da escrita.
Logo no início do primeiro paragrafo, somos situados no tempo e no espaço da ação, o que prende de imediato a nossa atenção, “A notícia correra a capital, São Petersburgo, como um rastilho. Naquele tórrido mês de Agosto de 1903, não se falava de outra coisa”.
A razão de tanta agitação é a notícia de que, na longínqua Sibéria, uma aldeia é atacada por um tigre colossal, espalhando um rastro de terror, morte e destruição.
Perante o êxodo da população, o receio da perda de investimento no local e a dificuldade em encontrar caçadores dispostos a enfrentar o animal, o Czar anuncia uma recompensa magnífica para quem seja capaz de vencer a fera: o peso do animal em moedas de outro.
O chamado do Czar surte efeito e, “vindos dos quatro cantos do país, sozinhos ou em grupos organizados” vários homens se lançam na empreitada de encontrar e capturar o dito tigre.
Um deles é Iván Levovitch, um jovem humilde, inexperiente, vindo de uma modesta família de marceneiros que, sem medo, aceita o desafio que lhe permitirá alcançar o seu grande sonho de ser rico e famoso.
Devido à sua parca condição financeira, para realizar esta jornada Ivan apenas pode munir-se de uma espingarda e um cavalo e, ao aperceber-se da vastidão da Sibéria, logo se arrepende de não se ter juntado a um grupo de caçadores mais bem organizado. Contudo logo nos é dito o motivo que o impeliu a partir sozinho: “Não queria dividir a recompensa”.
Este pensamento ganancioso, bem como a desconfiança para com os outros vai sempre acompanhando Ivan na sua procura pelo Tigre, tornando a sua jornada mais difícil e solitária. “Poderia aquele homem ajuda-lo ou, pelo contrário, teria sido industriado por caçadores pouco escrupulosos para desorientar os novos perseguidores com indicações falsas?”
Conforme se vai embrenhando na Sibéria, Ivan percebe que o rastro de destruição do Tigre é longo e que leva algum atraso em relação a outros grupos de caçadores. Contudo, conforme o tempo vai passando, os relatos sobre ataques vão diminuindo, Ivan começa a cruzar-se com outros caçadores (todos bem mais experientes e mais bem armados do que ele), xomeçando a espalhar-se o boato de que o Tigre já teria sido entregue ao Czar.
Após um período de três meses sem nenhum novo relato, sabe-se que o tigre voltou a atacar uma aldeia, sendo afugentado por um viajante. Quando questionado por Ivan, este é informado que “Este animal cheira o medo. Só ataca quem o teme…”
Ivan resolve então traçar um plano e, convencendo um grupo de camponeses a servir de “isco”, armar uma emboscada ao Tigre.
Neste ponto, percebemos que o papel de predador e presa se misturam e, para Ivan, a força motriz da sua demanda continua a ser a ambição, levando-o a um ato completamente egoísta e mesquinho.
O final acaba por não ser completamente previsível, sendo ainda assim justo e compatível com a história.
A narrativa progride linearmente, sem saltos cronológicos, num ritmo e num ambiente que, talvez por se passar na Sibéria, lembra um conto tradicional russo. O texto é acompanhado de belíssimas ilustrações, de David de las Heras, que complementam o texto e às quais vale a pena prestar atenção.
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