Hoje venho falar mais um bocadinho da leitura de Guerra e
Paz, desta vez em relação à 3ª parte do 2º Tomo.
Esta parte centra-se mais nas vivências do Príncipe Andrei, e
nas mudanças que se operam no mesmo ao perceber-se novamente apaixonado.
Vamos lá?
♡ No
início desta 3ª parte encontramo-nos
em 1809 e percebemos que as alianças
entre os imperadores Russo e Francês se
mantêm fortes, ao ponto de
se falar de um eventual casamento entre Napoleão e uma das irmãs do
imperador Alexandre, estando por isso a viver-se um período de tréguas.
♡ Nesse
período, Andrei viveu na
sua aldeia em Bogutchárovo,
implementando, sem dificuldade, os empreendimentos que Pierre sonhara para as
suas herdades: tornou os camponeses servos em agricultores livres, contratou
uma parteira experiente e ainda um sacerdote para ensinar os filhos dos
camponeses a ler e a escrever.
Quando não se
encontrava nas herdades, Andrei passava o tempo livre na companhia do pai e do
filho, aproveitando para se inteirar, através da leitura, dos acontecimentos exteriores do mundo.
Além
disso, dedicava-se à elaboração de um projeto de alteração dos regulamentos e estatutos
militares.
♡ Para
resolver umas questões relacionadas com as
suas propriedades de Riazan, o príncipe
Andrei precisava encontrar-se com o chefe provincial da nobreza, nada menos que
o conde Rostov, tendo, para isso, que dirigir-se a sua casa.
Nessa visita, Andrei depara-se pela primeira vez com
Natacha, ficando surpreendido pela sua leveza e juventude.
“De repente, sem saber porquê, o príncipe Andrei sentiu uma dor. O dia
estava tão bonito, o Sol tão luminoso, tudo em redor era tão alegre; e aquela
rapariguinha magra e bonita nem queria saber da existência dele e estava
contente e feliz com a própria vida…” (p. 454)
♡ Depois
desta reunião, Andrei desloca-se a
Petersburgo, onde decorrem uma serie de reformas políticas, nomeadamente a criação de decretos que viriam a extinguir
os graus da corte, bem como substituir toda a ordem judicial, administrativa e
financeira da Rússia.
É
neste contexto que Andrei é
recebido pelo ministro de guerra – o conde Araktchéiev – para lhe entregar o memorando, no qual
trabalhara, sobre o regulamento militar.
As propostas sugeridas por Andrei não foram aprovadas, no
entanto, foi-lhe proposto entrar como membro sem vencimento, no Comité para o Regulamento Militar.
Enquanto espera pela notificação sobre a sua inclusão como
membro do Comité, Andrei resolve reatar velhos contactos, em especial com
personalidades que sabia poderem ajudá-lo de futuro.
Assim, num serão em casa do Conde Kotchubei, Andrei é
apresentando a Speránski, comandante-supremo de uma reforma civil que acontecia
em Petersburgo. Speránski mostra-se um homem culto, rico em conhecimentos e
influências e que, já tendo ouvido falar de Andrei, promete interceder por ele
junto ao presidente da comissão para regulamentação do exército.
Andrei vai-se assim aproximando de Speránski, vendo nele um
homem inteligente, sensato, enérgico e perseverante, que utilizava o seu poder
apenas para o bem da Rússia.
Fruto da influência de Speránski, a verdade é que, passada
uma semana, Andrei não só tinha sido aceite como membro da comissão de
elaboração do regulamento Militar, como ainda era chefe da comissão da
elaboração de leis, passando a trabalhar no código civil.
♡ Surge aqui uma
interrupção as aventuras de Andrei para nos inteirarmos do que se passa com
Pierre.
Dominado por um sentimento de melancolia, Pierre recebe uma
carta de sua esposa, implorando-lhe um encontro e escrevendo sobre a sua
tristeza e o seu desejo de lhe dedicar a vida. Pierre é então recordado, por um
dos seus irmãos mações, que uma das primeiras regras da maçonaria consistia em
perdoar quem se arrependia.
Movido pela busca do autoaperfeiçoamento, Pierre resolve
perdoar Hélène e aceitá-la de novo em sua casa.
♡ Regressámos à família Rostov
e ficamos a saber que, mesmo mantendo problemas financeiros, estes resolvem
voltar a Petersburgo onde, pouco depois da sua chegada, Berg pede Vera em
casamento.
Apesar da família Rostov ficar feliz com o pedido e
reconhecerem em Berg um bom pretendente, não podem deixar de se preocupar com o
valor que terão que deixar de dote, resolvendo então a questão, deixando a Vera
um dote de 20 mil rublos, bem como uma nota de promissória no valor de 80 mil.
♡ Boris resolve também
visitar os Rostov, surpreendendo-se com o quanto Natacha cresceu e se tornou
bela. No entanto, resolve não se aproximar muito da mesma uma vez que “não devia ceder a esse sentimento, porque
casar-se com ela, uma rapariga quase sem fortuna, seria fatal para a sua
carreira, e reatar as antigas relações sem o objetivo de casamento seria um
comportamento ignóbil” (p. 484)
A condessa, apercebendo-se dessa situação, e temendo pela
felicidade da filha, pediu a Boris para que não mais os visitasse.
♡ Avançamos até à véspera
do réveillon de 1810, quando decorre um baile, para o qual foi convidada a nata
da sociedade Petersburguesa, na qual se incluíam os Rostov.
Nesta parte acontece uma das minhas cenas favoritas em que
acompanhamos os preparativos das senhoras para a festa, e a preocupação com os
seus vestidos e penteados. Tratava-se do primeiro baile formal de Natacha,
motivo pelo qual nenhum pormenor pode ser deixado ao acaso.
Para este baile foram também convidados Pierre e Andrei
que, inicialmente, não repara em Natacha. No entanto, após ser chamado à
atenção por Pierre, Andrei convida Natacha para a sua primeira dança.
“…foi dançar e escolheu Natacha porque Pierre lha indicou, e porque ela
foi a primeira das mulheres bonitas em que os seus olhos se detiveram; mas
assim que enlaçou aquela cintura fina, flexível, palpitante e ela se movimentou
tão próxima dele e sorriu tão perto dele, o vinho do seu encanto subiu-lhe à
cabeça” (pp. 495-496)
Durante o baile, Andrei deslumbra-se com a jovem Natacha,
ficando novamente surpreendido e encantado com a sua alegria e leveza e dando
por si a divagar acerca da mesma:
“… ‘Se ela se aproximar primeiro da prima, e depois de outra dama, será
minha mulher’ – disse inesperadamente a si mesmo o príncipe Andrei, olhando
para ela. Natacha aproximou-se da prima em primeiro lugar.
Que disparates nos vêm por vezes à cabeça! – pensou o
príncipe Andrei. – Mas a verdade é que esta rapariga é tão adorável, tão
especial, que em menos de um mês de bailes, estará casada’…” (p. 497)
♡ No dia seguinte,
Andrei deveria encontrar-se com Speránski para um almoço informal, com outras
figuras de relevo da sociedade Petersburguesa. No entanto, no desenrolar do
convívio, Andrei começa a reconhecer em Speránski algumas características até aí
desconhecidas e a desiludir-se com o mesmo.
"O príncipe Andrei ouvia com espanto e com a
tristeza do desapontamento aquele riso e olhava para Speránski. Parecia-lhe que
aquele não era Speránski, era outro homem. Tudo aquilo que antes imaginara de
misterioso e atraente em Speránski tornou-se-lhe de repete claro e nada
atraente" (p. 499)
Depois deste convívio, no qual reflete sobre a inutilidade
do seu trabalho, Andrei decide-se a ir visitar os Rostov, voltando a sentir uma
estranha sensação de felicidade na presença de Natacha.
"Porque me agito eu, porque me debato neste
quarto apertado, fechado, quando a vida, toda a vida, com todas as alegrias,
está aberta para mim?" (P. 502)
“ (...) Pierre tem razão ao dizer que é preciso
acreditar na possibilidade da felicidade para se ser feliz, e eu agora
acredito. Deixemos os mortos enterrarem os mortos, e enquanto estou vivo é
preciso viver e ser feliz" (p. 503)
♡ Posteriormente, Berg e
Vera resolvem organizar um jantar em sua casa, convidando alguns conhecidos e
amigos, de forma a apresentar-se, como casal, em sociedade.
Nesse convívio comparecem Pierre, Andrei e, obviamente, a
família de Vera – os Rostov.
Pelas expressões dos amigos, Pierre percebe que algo se
passa e, mais tarde, tenta falar a esse respeito com Andrei.
Neste ponto, fiquei confusa com uma questão que Andrei faz
a Pierre...
" - Preciso, preciso falar contigo - disse o
príncipe Andrei. - Tu sabes, daquelas nossas luvas de mulher (referia-se as
luvas maçónicas que se davam a um irmão que acabava de entrar para que as desse
à mulher amada). Eu... Mas não, depois falo contigo..." (p. 507)
Afinal Andrei também é mação? Terei andado tão distraída
que não dei por ela antes?
Foi então que, para esclarecer esta questão, resolvi procurar algumas opiniões pela internet. Pelo que percebi, de acordo com as notas de rodapé de uma edição brasileira, na versão inicial da obra, Andrei era também era iniciado na
Franco-maçonaria, tendo essas cenas sido eliminadas na versão final. No entanto,
esta alusão à sua iniciação escapou à revisão do autor, mantendo-se por isso
este trecho da obra. Acho este aspecto bastante interessante, embora tenha pena
de, na minha edição, não virem este tipo de notas explicativas.
♡ No dia seguinte, a
convite do Conde Rostov, Andrei vai almoçar com a família, tornando-se mais
evidente a sua aproximação com Natacha. Depois desse convívio, Natacha confessa
à mãe algum receio em relação a essa aproximação, principalmente por se tratar
de um homem viúvo. A condessa acalma a filha, assegurando-lhe que "os casamentos se fazem no céu".
♡ Entretanto Andrei
encontra-se com o amigo Pierre, confessando-lhe os seus sentimentos pela jovem
Rostova.
Apesar
de viver um sentimento ambíguo, por ter um grande carinho por Natacha, Pierre
acaba por apoiar o amigo, incentivando-o a declarar-se publicamente.
"Essa rapariga é
um tesouro tão grande, tão... É uma rapariga rara... Querido amigo, peço-lhe,
não se ponha com filosofias, com dúvidas, case-se, case-se, case-se... E tenho
a certeza de que não haverá homem mais feliz." (p. 510)
Após
ter tomado a decisão de se casar, Andrei parte para casa, no sentido de obter o
consentimento do seu pai.
Apesar
de ouvir o filho com aparente calma, o velho Nikolai Bolkósnki enumera alguns
entraves ao enlace, nomeadamente a situação financeira dos Rostov, que já por
todos era conhecida, a diferença de idades entre Andrei e Natacha e ainda o
facto de Andrei ter um filho 'que era
pena entregar a uma rapariguinha'. Tendo por base esta argumentação, o
conde Bolkósnki pede a Andrei que adie o casamento por um ano e, se ao fim
desse tempo os seus sentimentos se mantiverem, aí sim terá o seu consentimento
para casar.
Depois
da conversa com o pai, Andrei volta a casa dos Rostov, formalizando o pedido de
casamento e comunicando ainda o prazo de espera imposto pelo velho príncipe
Bolkónski. Apesar de inicialmente estranharem este pedido de adiamento, os
Rostov acabam por dar o seu consentimento.
Entretanto, para passar
esse ano de interregno, Andrei resolve retirar-se para umas termas, na Suíça,
numa tentativa de melhorar a sua saúde.
♡ Depois disto, acompanhamos Maria – a irmã de Andrei – numa carta
que esta escreve à sua amiga Julie Karáguina e na qual lhe revela algumas das
suas angústias, nomeadamente em relação à partida do irmão, e à preocupação com
a saúde do pai e sobrinho. Nessa carta, Maria também ressalta a importância
que, para ela, tem a religião enquanto fonte de força para superar essas
agruras.
"...só
a religião nos pode, não digo consolar, mas livrar-nos do desespero"
(p. 519)
Para Maria, a religião
assume-se como principal conforto e alegria, e ficamos aqui a saber que,
secretamente, esta deseja juntar-se à 'gente
de Deus' e tornar-se também ela uma peregrina, sendo apenas travada pelo
dever de cuidar do pai e do sobrinho.
"Mas depois, ao ver o pai e em especial o
pequeno Koko, fraquejava na sua intenção, chorava um pouco e sentia que era uma
pecadora: amava o pai e o sobrinho mais do que a Deus" (p. 524)
❤❤❤
Sinto que, nesta parte, esmiucei mais o desenrolar da
narrativa, indo mais ao pormenor de cada acontecimento. Tratando-se de um
diário de leitura, acho importante registar os diferentes momentos, mas, por
outro lado, sinto também que falta expor um pouco as minhas reflexões sobre os
acontecimentos narrados. Mas tudo bem!
❤
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