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sábado, 21 de setembro de 2019

#018 | A Solidão dos Números Primos, de Paolo Giordano

Autor: Paolo Giordano (Itália)
Título Original: La solitudine dei numeri primi (2008)
Editora: Círculo de Leitores
Edição: 1ª Edição, Janeiro 2009 (257 págs.)
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Hoje vou falar de um dos mais antigos ‘não lidos’ da minha estante: A Solidão dos Números Primos, de Paolo Giordano. Estava a morar na minha estante, por ler (e a ganhar pó), desde o início de 2009. No entanto, só agora me apeteceu.

Enredo

Este livro conta-nos a história de vida de duas pessoas: Alice e Mattia.
Em capítulos alternados, vamos conhecendo a infância destas pessoas, sendo-nos apresentado, na vida de cada um, um episódio devastador que os deixa física e emocionalmente traumatizados, condicionando os seus desenvolvimento.  Alice sofre um acidente que a deixa com sequelas permanentes e Mattia, num momento de egoísmo, abandona a sua irmã gémea – Michela – que desaparece sem deixar rasto.

Num determinado ponto, na adolescência, a vida dos dois cruza-se, e iniciam uma relação de amizade invulgar, improvável, assente nas singularidades de cada um.
Ambos se sentem socialmente inadequados, distantes e estranhos, pelo que se revêm na solidão do outro, mantendo-se nunca completamente íntimos, mas nunca completamente afastados.

São aquilo que Mattia define como números primos gémeos, solitários, mas especiais, “quase próximos” sem “se tocarem realmente…”, assumindo-se o conceito matemático como uma metáfora para contar a história de duas almas perdidas.

Ela e Mattia estavam unidos por um fio elástico e invisível, sepultado debaixo de um monte de coisas de pouca importância, um fio que podia existir apenas entre duas pessoascomo eles: duas pessoas que haviam reconhecido uma na outra a própria solidão” (pp. 238-239).

A matemática é, aliás, relevante ao longo do desenvolvimento da história de Mattia, apresentando-se os números como um refúgio para o mesmo.

A história caminha até à idade adulta de ambos, permeada por silêncios e ausências, que completam o que fica por dizer entre ambos. Percebemos que os percursos de vida os levam por diferentes caminhos, embora o fio elástico e invisível nunca se quebre.

É um livro sobre escolhas e oportunidades perdidas e de como, por vezes, um acontecimento apenas, pode mudar o curso de uma vida.


A minha opinião

Num primeiro ponto, devo referir que gostei da escrita do autor.
O autor apresenta uma escrita envolvente, apresentada em capítulos curtos, que convidam à leitura, alternando entre a perspetiva de Alice e a de Mattia. Achei interessante o modo como o autor alterna entre uma visão masculina e feminina, mantendo-se verosímil.

O romance retrata dramas reais e atuais da nossa sociedade como sejam as crises e dramas da adolescência (abordando temas fortes como o bullying, os transtornos alimentares e a automutilação), bem como o medo de viver e de amar, a sensação de culpa e o remorso.

Contudo, terminei o livro mais insatisfeita do que pensativa.
Estava a gostar da leitura, do seu toque incomum, sombrio e exigente, mas… não há recompensa pelo meu tempo gasto com ele.

O livro tem um final em aberto (o que não é necessariamente mau), mas existem demasiadas pontas soltas ao longo do livro. Ao longo dos capítulos, e atendendo a alguns saltos temporais, existem pontos que ficam em aberto, deixando a expectativa de que se resolvam mais adiante, ao longo da narrativa. Contudo, isso não acontece.

Embora nem todos estes aspetos sejam essenciais para a história, outros mereciam atenção e desenvolvimento. Um exemplo flagrante é o da jovem que aparece no hospital: era mesmo Michela?

No final, Giordano usa o vazio e a falta de resolução como recurso, deixando, como referi, mais uma sensação de insatisfação do que um estímulo à reflexão.


Sobre a tradução, e lembrando que esta é uma edição de 2009, enervou-me um pouco o uso da expressão “ao invés”, em contextos que se encaixava perfeitamente um “contudo” ou “por outro lado”. O uso da expressão tornou-se tão repetitivo que se tornou claro ser um maneirismo do tradutor.

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