Autor: Virgínia Woolf (Inglaterra)
Título Original: Mrs. Dalloway (1925)
Editora: Clube do Autor
Edição: 1ª Edição, Agosto 2011 (203 págs.)
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Hoje
venho falar um pouco do incrível Mrs
Dalloway de Virgínia Woolf.
A história decore na Londres dos anos 20 – após o término da I Grande Guerra – e começa quando Clarissa Dalloway – esposa de um deputado conservador e mãe de uma jovem de dezassete anos – sai de casa para ir comprar as flores, para a festa que daria nessa noite.
No seu caminho pelas ruas de Londres até à floricultura, Mrs. Dalloway vai observando o que se passa à sua volta e vai ocupando a sua mente com diversos pensamentos, entre os quais, memórias do passado e a sua juventude.
No seu caminho pelas ruas de Londres até à floricultura, Mrs. Dalloway vai observando o que se passa à sua volta e vai ocupando a sua mente com diversos pensamentos, entre os quais, memórias do passado e a sua juventude.
No seu percurso, Mrs. Dalloway cruza-se
com uma série de outras personagens que, gradualmente, nos vão sendo
apresentadas.
De entre estas destaca-se Septimus Warren Smith, um veterano da Primeira Guerra Mundial, casado com uma
imigrante italiana. Septimus é um homem com profundas cicatrizes
psicológicas e prestes
a enlouquecer e que, nessa manhã, acompanhado pela sua esposa, se dirige ao
psiquiatra.
O
percurso destes personagens vai-nos então sendo narrado a partir das reflexões
dos mesmos. Isto é, através de uma técnica de fluxo de consciência, a autora conta a história a partir do
pensamento dos personagens: sabemos o pensam e o que sentem, sendo estes pensamentos geralmente questionamentos sobre situações
do dia-a-dia, ideias ou mesmo lembranças do passado.
Desta maneira, a narrativa constrói-se
sem uma linha temporal fixa, alternando entre o passado e o presente, na qual
acedemos ao íntimo dos personagens, aos seus sentimentos mais privados, às
suas contradições e aflições.
Por meio de uma alternância constante
entre o discurso direto, indireto e indireto livre – que tornam ímpar o
desenvolvimento do fluxo de consciência –
vamos revezando muitas vezes entre os pensamentos dos diferentes personagem, numa
alternância deveras subtil que, por vezes torna difícil perceber que já estamos
na mente de outra pessoa.
O
enfoque vai então para o que cada um pensa e sente, estando a acção – o que
cada um faz – muitas vezes posta para um segundo plano. Por esta razão, essa
acção (sair de uma sala ou abrir uma porta) é-nos muitas vezes descrita entre
parêntesis, como se de um pormenor apenas de tratasse.
Além de Clarissa e Septimus, somos ainda apresentados a
outros personagens – que entram
e saem de cena sem aviso prévio e sem marcação que distinga suas falas e suas
ideias – conhecendo o ponto de vista de todos eles. Desta maneira,
as personagens vão, ao longo da narrativa, adquirindo uma grande consistência,
tornando-se credíveis e reais.
Durante
os seus preparativos para a festa, Clarissa recebe a visita de Peter Walsh – o seu primeiro amor,
preterido por ela e por seu pai em favor de Richard – o Mr. Dalloway – em virtude de sua condição financeira e social.
Peter, regressado da Índia, volta a
Londres para falar com seus advogados sobre o seu divórcio e o seu regresso vai
despertar em Clarissa memórias o passado, trazendo-lhe à lembrança os sonhos
adolescentes, acordando na anfitriã sentimentos contraditórios.
Clarissa repensa nas suas escolhas de
vida, nos seus momentos de mais intensa felicidade, no seu casamento com
Richard Dalloway, pensa na filha adolescente – Elizabeth, em miudezas da
existência e no esplendor da vida, forçando-a a reflectir sobre o tempo
presente e sobre o que teria sido de sua vida se, porventura, suas escolhas
tivessem sido outras.
Outro interesse romântico de Clarissa
que também aparece na festa e a deixa ainda mais confusa é Sally – a completa antítese da protagonista.
Sally teve um papel importante na vida
da jovem Clarissa, pois foi das poucas pessoas pobres com quem ela conviveu. Mostrou-lhe
que era possível aproveitar a vida sem dinheiro e foi uma mulher que, pelo seu comportamento livre e espontâneo e
pela sua falta de pudor, chocava os outros. Foi uma mulher com quem Clarissa partilhou
um amor puro e juvenil na adolescência.
Paralelamente
aos preparativos da festa de Clarissa, vamos acompanhando a caminhada de
Septimus, nas suas frequentes visitas ao Psiquiatra, as suas alucinações com o seu grande
amigo Evans – que morreu na guerra – rumando à recomendação de internamento num
hospital psiquiátrico.
É
interessante notar que, apesar de Clarissa e Septimus partilharem a mesma
cidade, ruas, parques e momentos, nunca, ao longo da narrativa, se falam ou se
encontram.
E enquanto
Septimus expõe a sua dor ao mundo, Clarissa, por outro lado, esconde o seu
silêncio, cobre-o com uma capa de falsa confiança e com festas.
E é assim, entre o passado e o presente, entre os pensamentos de diferentes personagens que vamos avançando na narrativa, e avançando no tempo até ao culminar na festa de Clarissa.
Aliás, esse passar do tempo, é uma referência constante ao longo do livro, marcado pelas batidas do relógio (lembrando que o título inicial para o livro seria 'As Horas'...)
Publicado em 1925, Mrs. Dalloway é considerado por muitos a obra
mais importante de Virginia Woolf (1882-1941) e comprovou que acções
corriqueiras, quotidianas – como comprar flores –, podem ser tema de grande
arte, e que a vida e a morte acompanham todos os momentos da existência humana.
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