Autor: Paolo Giordano (Itália)
Título Original: La solitudine dei numeri primi (2008)
Editora: Círculo de Leitores
Edição: 1ª Edição, Janeiro 2009 (257 págs.)
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Hoje
vou falar de um dos mais antigos ‘não lidos’ da minha estante: A Solidão dos
Números Primos, de Paolo Giordano. Estava a morar na minha estante, por ler (e
a ganhar pó), desde o início de 2009. No entanto, só agora me apeteceu.
Enredo
Este
livro conta-nos a história de vida de duas pessoas: Alice e Mattia.
Em
capítulos alternados, vamos conhecendo a infância destas pessoas, sendo-nos
apresentado, na vida de cada um, um episódio devastador que os deixa física e
emocionalmente traumatizados, condicionando os seus desenvolvimento. Alice sofre um acidente que a deixa com sequelas
permanentes e Mattia, num momento de egoísmo, abandona a sua irmã gémea –
Michela – que desaparece sem deixar rasto.
Num
determinado ponto, na adolescência, a vida dos dois cruza-se, e iniciam uma
relação de amizade invulgar, improvável, assente nas singularidades de cada um.
Ambos
se sentem socialmente inadequados, distantes e estranhos, pelo que se revêm na
solidão do outro, mantendo-se nunca completamente íntimos, mas nunca completamente
afastados.
São
aquilo que Mattia define como números primos gémeos, solitários, mas especiais,
“quase próximos” sem “se tocarem realmente…”, assumindo-se o conceito
matemático como uma metáfora para contar a história de duas almas perdidas.
“Ela e Mattia estavam unidos por um fio
elástico e invisível, sepultado debaixo de um monte de coisas de pouca importância,
um fio que podia existir apenas entre duas pessoascomo eles: duas pessoas que
haviam reconhecido uma na outra a própria solidão” (pp. 238-239).
A
matemática é, aliás, relevante ao longo do desenvolvimento da história de
Mattia, apresentando-se os números como um refúgio para o mesmo.
A
história caminha até à idade adulta de ambos, permeada por silêncios e ausências,
que completam o que fica por dizer entre ambos. Percebemos que os percursos de
vida os levam por diferentes caminhos, embora o fio elástico e invisível
nunca se quebre.
É
um livro sobre escolhas e oportunidades perdidas e de como, por vezes, um
acontecimento apenas, pode mudar o curso de uma vida.
A minha opinião
Num
primeiro ponto, devo referir que gostei da escrita do autor.
O
autor apresenta uma escrita envolvente, apresentada em capítulos curtos, que
convidam à leitura, alternando entre a perspetiva de Alice e a de Mattia. Achei
interessante o modo como o autor alterna entre uma visão masculina e feminina, mantendo-se
verosímil.
O
romance retrata dramas reais e atuais da nossa sociedade como sejam as crises e
dramas da adolescência (abordando temas fortes como o bullying, os
transtornos alimentares e a automutilação), bem como o medo de viver e de amar,
a sensação de culpa e o remorso.
Contudo,
terminei o livro mais insatisfeita do que pensativa.
Estava
a gostar da leitura, do seu toque incomum, sombrio e exigente, mas… não há
recompensa pelo meu tempo gasto com ele.
O
livro tem um final em aberto (o que não é necessariamente mau), mas existem
demasiadas pontas soltas ao longo do livro. Ao longo dos capítulos, e atendendo
a alguns saltos temporais, existem pontos que ficam em aberto, deixando a
expectativa de que se resolvam mais adiante, ao longo da narrativa. Contudo,
isso não acontece.
Embora
nem todos estes aspetos sejam essenciais para a história, outros mereciam
atenção e desenvolvimento. Um exemplo flagrante é o da jovem que aparece no
hospital: era mesmo Michela?
No
final, Giordano usa o vazio e a falta de resolução como recurso, deixando, como
referi, mais uma sensação de insatisfação do que um estímulo à reflexão.
❤
Sobre
a tradução, e lembrando que esta é uma edição de 2009, enervou-me um pouco o
uso da expressão “ao invés”, em contextos que se encaixava perfeitamente um “contudo”
ou “por outro lado”. O uso da expressão tornou-se tão repetitivo que se tornou
claro ser um maneirismo do tradutor.