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sábado, 28 de maio de 2016

#015 | O Grande Meaulnes, de Alain Fournier

Autor: Alain Fournier(país)
Título Original: Le Grand Meaulnes (1913)
Editora: Relógio d'Água
Edição: 1ª Edição, Abril 1987 (286 págs.)
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Hoje vou falar de ‘O Grande Meaulnes’.

Este romance foi escrito em 1913 por Alain-Fournier – pseudónimo de Henri-Alban Fournier – um soldado francês que, apenas um ano após o lançamento do seu único romance, foi morto numa batalha durante a Primeira Guerra Mundial.

Apesar de ser a única obra completa do autor (foram postumamente publicados alguns dos seus escritos, como poemas, ensaios e correspondência) foi o suficiente para ser considerado um clássico da literatura francesa.


Enredo 

A história é-nos contada por François Seurel que recorda quando, aos 15 anos, desenvolveu uma grande amizade com Augustin Meaulnes, dois anos mais velho.

François é filho do Sr. Seurel – um diretor de escola numa aldeia de Sologne, uma região rural de lagos e florestas – e inicia a sua narrativa quando Augustin Meaulnes se junta à sua turma, em Novembro de 1890.

O carisma de Augustin rapidamente faz com que todos os meninos da turma o idolatrem, queiram ser seus amigos e logo o passem a tratar por Grande Meaulnes.

Um dia, sob o pretexto de ir buscar uns visitantes à cidade, Meaulnes leva um cavalo e um carrinho da escola, e desaparece por três dias, sem qualquer explicação.
Quando regressa, cansado e atordoado, parece muito renitente a contar o que se passou nesses três dias de ausência.

No entanto, aos poucos, Meaulnes confia o seu segredo ao seu amigo François, revelando-lhe ter-se deparado, acidentalmente, com uma bela casa antiga – perdida no meio da floresta – onde relata ter ido a uma festa mágica, na qual decorriam os preparativos de um casamento, sendo nessa festa que Meaulnes conhece uma rapariga encantadora - Yvonne de Galais.

No entanto, antes da cerimónia, o casamento é cancelado por desistência da noiva, todos regressam aos seus lares e Meaulnes fica sozinho, sem saber do paradeiro de Yvonne.

Regressando à escola, Meaulnes tenta traçar um plano de forma a reencontrar o caminho para o domínio perdido, bem como a sua adorada Yvonne.



A minha opinião

O facto da história nos ser contada, não por Meaulnes mas por François, e com o desfasamento de alguns anos, envolve toda a historia numa certa nostalgia, como se visualizássemos os acontecimentos através de uma bruma.

Além disso, o próprio cenário campestre, repleto de árvores, sombras e casas envelhecidas, acentua o carácter místico desta história, parecendo, por vezes, que a realidade vivida se funde com o sonho ou a imaginação.

O final do livro deixa-nos com uma sensação agridoce, uma vez que é simultaneamente belo e triste.

Este livro tornou-se muito especial para mim, pela sensação de sonho que proporciona, pela escrita delicada, embora não necessariamente simples.

Além disso, foi para mim extremamente difícil arranjar uma edição (uma vez que, à data da sua aquisição, o livro se encontrava esgotado), e quando finalmente consegui este exemplar, da Relógio D’Água, qual não foi a minha surpresa ao perceber que se tratava de um exemplar novo, numa primeira edição de Abril de 1987… o mês e ano do meu nascimento!
Existe, atualmente, uma nova edição, da Alma dos Livros, publicada com o título O Tempo das Ilusões Perdidas, mas vou preferir manter comigo esta edição mais antiga.

Enfim, não sei que mais palavras usar para demonstrar o quanto gostei deste livro por isso recomendo apenas: leiam-no. Mas leiam-no conscientes que não é difícil perdermo-nos neste bosque de ilusões perdidas.

sábado, 21 de maio de 2016

#014 | Vamos Comprar um Poeta, de Afonso Cruz

Autor: Afonso Cruz (Portugal)
Título Original: Vamos Comprar um Poeta
Editora: Editorial Caminho
Edição: 1ª Edição, Março 2016 (101 págs.)
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Hoje venho falar de uma das minhas mais recentes leituras: Vamos Comprar um Poeta de Afonso Cruz.

Apesar do tamanhinho, a pequenez deste livro fica-se pelo seu tamanho físico, uma vez que a narrativa, de pequena nada tem.

Este livro conta-nos então a história de uma sociedade imaginária (distópica, para quem gostar do conceito), onde o materialismo controla todos os aspectos das vidas dos seus habitantes.

Todas as pessoas têm números em vez de nomes, todos os alimentos são medidos com rigor e exatidão e até os afetos são contabilizados ao grama.

… mas há estudos que confirmam a hipótese de haver benefício em depositar uns mililitros de saliva na maça do rosto de outra pessoa, por mais estranho e grotesco que isso nos possa parecer.’ (p.10)

Nesta sociedade imaginária a cultura é vista como um disparate e uma inutilidade. Não obstante estes atributos, é comum, nesta sociedade, as famílias terem artistas em vez de animais de estimação e é neste contexto que a protagonista desta história decide adquirir um poeta.
Um poeta não sai caro (excepto se usar óculos, esses são mais caros) nem suja muito – como acontece com os pintores ou os escultores – e, além disso, entretém-se facilmente com folhas brancas e canetas.

E é na relação desta jovem com o seu poeta que vamos percebendo a importância da poesia, da criatividade e da cultura nas nossas vidas.

Aos poucos, a protagonista da história começa a usar metáforas, a referir-se às coisas em valores aproximados, e a perceber que há mais na vida, além dos números e do rigor.

E é com base nesta premissa aparentemente simples, que Afonso Cruz constrói uma crítica à forma como a cultura é vista pela sociedade, complementando no posfácio a crítica feita ao longo da história, dando-nos uma visão mais concreta (curiosamente, em números) da importância da cultura.

Escusado será falar da escrita de Afonso Cruz que, como toda a gente sabe, é inspiradora, sensível e, tal como a poesia, é capaz de nos abrir uma janela por onde se vê o mar.
Francamente…