Hoje volto para conversar mais um pouquinho sobre
a leitura de Guerra e Paz, desta vez sobre a 2ª Parte do Tomo II.
Como
já tem vindo a acontecer, esta foi uma parte recheada de acontecimentos e vou,
por isso, voltar a organizar-me por tópicos.
Vamos
lá?
♡ Depois da discussão com a esposa (na parte anterior,
recordam-se?), Pierre parte para Petersburgo e questiona-se sobre a sua vida e
as suas decisões.
“O que é mau? O que é bom?
O que devemos amar, o que devemos odiar? Porquê viver e o que sou? O que é a
vida, o que é a morte? Qual é a força que governa tudo?” (p.377)
Entretanto, Pierre fica retido na estação de Torjok e conhece o
mação Ossip Alekséievitch Bazdéiev. Os dois conversam e, aos poucos, Pierre
começa a perceber que, talvez na maçonaria, estejam as respostas que ele
procura.
“ – A suprema sabedoria e
a verdade são como o mais puro líquido que desejamos receber em nós – disse
ele. – Poderei eu receber esse líquido puro num vaso impuro e julgar a sua
pureza? Só com a minha purificação interior posso manter até certo ponto a
pureza do líquido recebido.
– Sim,
sim, é verdade! – disse Pierre alegremente.” (p. 381)
Pierre começa a imaginar que a maçonaria poderá ser então o seu
caminho para a virtude, salvando-o da depravação em que se encontra e aceita
participar de um ritual de iniciação à maçonaria.
Acompanhamos então esse ritual, no qual Pierre aprende quais os
objectivos da ordem maçónica, bem como as sete virtudes de um mação
(correspondentes aos sete degraus do templo de Salomão).
No final desse ritual, Pierre regressa a casa, sentindo-se
renovado e sentindo que se afastara dos seus anteriores hábitos de vida.
No dia seguinte, já em sua casa, Pierre recebe a visita do
príncipe Vassíli – o seu sogro – pedindo-lhe que se reconcilie com Hélène. Esta
visita não é bem recebida por Pierre, que acaba por expulsar Vassíli de sua
casa.
Após este episódio, Pierre deixa avultadas somas de dinheiro aos
seus amigos mações e resolve retirar-se para uma das suas propriedades.
O caso do duelo com Dólokhov, aliado á separação de Hélène, fez
com que a reputação de Pierre na sociedade Petersburguense voltasse a cair e
que este não fosse mais tão bem visto como até aí.
♡ Após estes acontecimentos, regressámos a um dos serões de Anna
Pávlovna no qual a anfitriã apresenta Boris Drubetskoi aos seus convidados,
entre os quais se encontra Hélène (que entretanto assumiu a postura de
coitadinha, vítima num casamento falhado) e que rapidamente se aproxima de
Boris.
♡ Entretanto, em casa dos Bolkónski e reencontramos um Andrei
desanimado, firmemente decidido a não voltar ao serviço militar e que,
entretanto, se mudou para Bogutchárovo – uma das propriedades que deixou de
herança ao filho e que fica a cerca de 40 Km da propriedade principal.
Ficamos então a saber que Nikolai Andréitch é uma criança
debilitada e que fica muitas vezes ao cuidado de Maria – a sua tia – e de
Sávichna, uma ama.
♡ Pierre, sob influência dos preceitos da maçonaria, e todo
cheio de boas intenções, resolve criar um guia com medidas a implementar nas
suas propriedades. Entre elas constam a libertação dos camponeses –
exigindo-lhes menos horas de trabalho – e a libertação de mulheres e crianças
dos trabalhos no campo. Pierre toma estas medidas na melhor das intenções, não
pensando porém nas repercussões que estas medidas teriam na vida dos
camponeses: menos mão-de-obra e menos trabalho implicariam menos alimento,
logo, uma condição mais precária.
Além disso, deveriam ser criados hospitais, asilos e escolas. Estando
Pierre muitas vezes ausente (e ainda em função da sua falta de experiência),
esta gestão foi delegada a administradores que, à sua maneira, foram gerindo as
verbas cedidas, muitas vezes em favor dos próprios administradores e não tanto
em função dos camponeses.
No entanto, os relatórios enviados pelos administradores eram
sempre positivos e favoráveis pelo que Pierre se encantava com o seu poder
filantrópico.
“Como é fácil, que pouco
esforço é necessário para fazer tanto bem – pensava Pierre –, e que pouco nos
preocupamos com isso!
Ficava
feliz com a gratidão que lhe era manifestada, mas ficava envergonhado ao
recebê-la. Essa gratidão recordava-lhe como estava em condições de fazer ainda mais por aquela gente simples e boa.” (p.
411)
♡ Ao regressar de uma
viagem ao Sul, Pierre resolve visitar Andrei e falar-lhe das herdades e do bem
que tem realizado, tentando mostrar-lhe que mudou e que é uma pessoa melhor.
Apesar de, inicialmente, Andrei se mostrar algo cético e tentar ‘trazer’ Pierre
à realidade, logo se deixa contagiar pelo seu entusiasmo e aceita o amigo,
nesta sua nova condição.
“– Nem lhe consigo dizer o muito que vivi
durante esse tempo. Eu mesmo não me reconheceria.” (p. 413)
♡ Regressamos,
entretanto, ao regimento e acompanhamos novamente Rostov e Deníssov num cenário
muito triste e devastador.
“O regimento de Pavlogrado tivera apenas dois homens feridos em acção;
mas entre a fome e a doença perdeu quase metade dos homens. Nos hospitais era
tão certo morrerem que os soldados, doentes com febre e inchados da comida
imprópria, preferiam continuar ao serviço, arrastando os pés à força pela linha
da frente, a irem para os hospitais.” (p. 429)
Neste contexto
miserável, Deníssov desvia algumas provisões destinadas à infantaria, alegando
que no seu regimento não comiam há duas semanas. Apesar de bem-intencionado,
Deníssov acaba por ser acusado de banditismo, sendo intimado a entregar o
comando do esquadrão ao oficial mais graduado, e a comparecer a tribunal no
estado maior da divisão.
No entanto, na véspera
desse dia, Deníssov é atingido numa coxa por uma bala e aproveita a circunstância
para ir para o hospital, recusando a comparência na divisão.
Em Junho é declarada
uma trégua e Rostov aproveita para visitar o seu amigo ao hospital.
Nesta parte é-nos
descrito o ambiente hospitalar onde, por falta de recursos, os soldados jazem
sem cuidado, doentes, feridos e magros. É-nos ainda descrito que, entre os
doentes, se encontram alguns mortos, cujos corpos não foram retirados.
Entretanto, na
enfermaria dos oficiais, Rostov reencontra Deníssov, sugerindo-lhe que redija
um pedido de desculpas e, desta forma, resolver o seu problema.
Após alguma
renitência, Deníssov acaba por reconsiderar a sua posição, entregando a Rostov
um envelope dirigido ao soberano.
♡ Depois de informar o
regimento, Rostov parte então para Tilsit, ao encontro do soberano, ignorando
que, nesse momento, se organizava um encontro entre os imperadores francês e
russo, tornando esse momento, no menos oportuno para uma audiência com o
soberano.
Ao chegar a Tilsit,
Rostov encontra-se com Boris que, servindo-se dos seus conhecimentos e influências
politicas, se prepara para assistir ao encontro dos sobreanos.
Rostov tenta então que
Boris interceda por ele, entregando a carta ao soberano mas percebe, no
entanto, que o amigo se demonstra contrariado face a essa ideia.
“O Boris não me quer ajudar e eu também não lhe quero pedir. Isso está
decidido – pensava Nikolai. – Entre nós está tudo acabado, mas não me vou
embora daqui sem fazer tudo o que puder por Deníssov e, principalmente, sem
entregar a carta ao soberano” (p. 443)
Numa tentativa de se
encontrar com o soberano, Rostov é interceptado pelo General de cavalaria, que
conhecia bem tanto Rostov quanto Deníssov.
Rostov tenta
explicar-lhe o propósito da sua visita, acabando por lhe entregar a carta.
Entretanto, quando o
soberano se prepara para sair a público, toda a multidão procura aproximar-se
para vê-lo.
Rostov percebe que o
general de cavalaria se aproxima do soberano, tentando explicar-lhe algo. No
entanto ouve-o responder “Não posso,
general, e não posso porque a lei é mais forte do que eu”. (p. 466).
Esta parte termina
então com um Rostov desanimado, que se junta a outros oficiais para afogar as suas
mágoas.
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