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domingo, 28 de fevereiro de 2016

#013.04 | Lendo Guerra e Paz ♡ 04 Tomo II – 1ª Parte

Hoje venho conversar mais um pouquinho sobre a leitura de Guerra e Paz, desta vez relativamente à 1ª Parte do Tomo II.
Nesta primeira parte aconteceu tanta coisa que acho melhor organizar-me em tópicos.

Vamos lá?

1 ♡ Rostov volta para casa e leva consigo Deníssov que é imediatamente bem acolhido pela família. Neste regresso percebemos que há um ligeiro afastamento entre Nikolai e a sua prima Sónia com a qual este tinha, anteriormente, trocado juras de amor eterno.

– Mas é estranho – disse Vera, aproveitando um momento de silêncio – que Sónia e Nikólenka se tratem agora por «você» e como estranhos.” (p.329)

2 ♡  Passamos entretanto para uma cena no Clube Inglês, onde estão reunidos alguns dos membros habituais, bem como alguns convidados – no caso jovens militares – encontrando-se entre eles o Conde Rostov, Nikolai, Dólokhov – oficial do regimento de Semiónovski – e Pierre, que se preparam para realizar um almoço de homenagem ao Príncipe Bagration.
Durante esse almoço começam a circular rumores de que Dólokhov estaria envolvido com Hélène – a esposa de Pierre – e que aparentemente todos saberiam menos ele.

“– Bem, agora à saúde das mulheres bonitas – disse Dólokhov com expressão séria, mas com um sorriso aos cantos da boca, voltando-se para Pierre com a taça. – À saúde das mulheres bonitas, Petrucha, e dos amantes delas – disse.” (p.340)

Perante estas afrontas e determinado a manter a sua honra, Pierre resolve desafiar Dólokhov para um duelo a realizar-se no dia seguinte.
Neste tipo de duelo era comum ter-se um padrinho, sendo que Rostov concordou em ser padrinho de Dólokhov, enquanto Nesvítski, por sua vez, foi padrinho de Pierre.

O duelo decorre em favor de Pierre que consegue atingir – embora não letalmente – Dólokhov.
Rostov leva então o amigo ferido a casa e descobre, para sua grande surpresa que, apesar de todo o aparato frente aos amigos e conhecidos, Dólokhov vive com a sua velha mãe e irmã corcunda, sendo o mais carinhoso filho e irmão.
A partir deste momento a amizade de Rostov com Dólokhov torna-se mais forte, passando este último a frequentar a casa do primeiro.

No seguimento desse duelo Pierre regressa a casa e, confrontando a esposa, percebe que o seu casamento acabou. Para terminar rapidamente com tudo, Pierre acaba por ceder a Hélène grande parte das suas propriedades e parte sozinho para Petersburgo.

3 ♡ Temos aqui mais um corte da narrativa e passamos à casa da família Bolkónski, onde Liza se prepara para dar à luz. Até este ponto ninguém obtivera mais notícias de Andrei, crendo-o morto.

Realizam-se todos os preparativos para o parto, é chamado um médico e entretanto, a parteira Maria Bogdánovna inicia os cuidados necessários.
O parto inicia-se e entretanto apercebem-se que alguém chega ‘pela avenida’. Todos acreditam tratar-se do médico mas, qual é o espanto, quando com ele chega Andrei!
Andrei aproxima-se da esposa e assusta-se ao ler nela uma expressão de desespero.

Eu amo-vos a todos, não fiz mal a ninguém, porque tenho que sofrer? Ajudem-me” (p. 355)

O obstetra e a parteira continuam o seu trabalho – difícil e demorado – que infelizmente não tem um final feliz.

…o médico olhou-o com ar desnorteado e, sem dizer palavra, passou ao lado. Uma mulher saiu a correr e, ao ver o príncipe Andrei, hesitou no limiar. Ele entrou no quarto da mulher. Ela jazia morta, na mesma posição que que a vira cinco minutos antes…” (p.355)

Três dias depois realiza-se o funeral de Liza e, durante todo o ritual, fica nela presente a mesma expressão – “Ah, o que fizeram vocês comigo” (p.356) – fazendo crescer em Andrei um sentimento de culpa “que não podia emendar nem esquecer”.

Passados cinco dias, realiza-se o baptizado do pequeno Nikolai Andréitch.

4 ♡ O Outono aproxima-se e regressamos ao núcleo da família Rostov, agora frequentemente acompanhados de Dólokhov e Deníssov.
Enquanto Deníssov continua a ser adorado por todos da família, Dólokhov não consegue conquistar a simpatia de Natacha

Entre os jovens introduzidos por Rostov, um dos primeiros foi Dólokhov, de quem toda a gente em casa gostava, exceto Natacha. Por causa de Dólokhov ela quase se zangou com o irmão. Insistia em que ele era má pessoa…” (p. 358)

Rostov tenta defender o amigo alegando que “…é preciso vê-lo com a mãe, que coração que ele tem!” (idem)

Natacha não se deixa convencer alegando preferir a companhia de Deníssov (“Gosto do teu Deníssov, embora seja pândego e tudo isso, mas eu gosto dele…”) e que, além disso, Dólokhov estaria a aproximar-se de Sónia.

– … E sabes que que ele está apaixonado pela Sónia?
– Que disparate…
– Tenho a certeza, tu vais ver.” (p. 358)

Mais tarde, ao terceiro dia das festas de Natal, Dólokhov pede Sónia em casamento. No entanto, e apesar de ser uma órfã, sem dote, e se encontrar perante um excelente partido, Sónia recusa o pedido, para surpresa de todos e alívio de Rostov.

Entretanto, num baile, Natacha continua a aproximar-se de Deníssov, ficando impressionada com os seus dotes de dançarino.

5 ♡ Humilhado perante a recusa de Sónia, Dólokhov resolve sair da casa dos Rostov.
No entanto, passados três dias, Rostov é convidado por Dólokhov para uma pequena despedida, antes de regressar ao exército.
Quando Rostov chega á ‘festa’ está a decorrer um jogo de cartas, para o qual é convidado a participar.
Apesar das suas reticências em relação ao jogo (“Só os parvos podem jogar à sorte”) Rostov acaba por jogar e, aos poucos, a perder dinheiro para Dólokhov.

É interessante perceber que, conforme Rostov vai perdendo dinheiro, os pensamentos ligados ao amor pela família, e a sensação de ‘como pode isto acontecer comigo?’ voltam a vir-lhe à mente, tal como havia acontecido na batalha de Schöngrabern.

Nesse momento a vida familiar (…) surgia à sua frente com tanta força, clareza e encanto como se isso pertencesse ao passado distante, uma felicidade perdida e não apreciada.” (p. 366)

Não fiz nada de mal. Matei alguém, ou ofendi, ou desejei mal a alguém? Porquê esta terrível desgraça?” (p. 368)

O jogo decorre até Rostov ter perdido, para Dólokhov, a soma de 43.000 rublos. Só neste ponto Rostov se apercebe ter sido vítima de uma vingança, por parte de Dólokhov, pelo facto de este ter sido rejeitado por Sónia.

Ele sabe o que esta perda significa para mim – dizia a si próprio – Como pode desejar a minha perdição? Se ele era meu amigo. Se eu gostava dele…” (p. 368)

– Ouve, Rostov – disse Dólokhov, sorrindo claramente e fitando Nikolai nos olhos –, tu conheces o ditado: «Sorte ao amor, azar às cartas.» A tua prima está apaixonada por ti. Eu sei.” (p. 369)

6 ♡ Rostov regressa a casa, onde reina uma ‘atmosfera amorosa e poética’ e onde todos se sentem felizes, assistindo Deníssov e Natacha a cantar e a dançar.

Rostov mantem-se taciturno e procura conselho com o seu pai que, apesar de ter dificuldade em fornecer tão avultada quantia, acaba por ajudar o filho.

Paralelamente, Deníssov pede a mão de Natacha em casamento. A jovem, não cabendo em entusiasmo, vai contar à sua mãe. Natacha é, no entanto, chamada à razão pela sua mãe e percebe que é demasiado nova para se casar, declinando assim o pedido.

Esta primeira parte termina então, com Rostov a saldar a sua dívida e a partir para a Polónia, ao encontro do seu regimento.

Apesar de não ser muito longa em número de páginas (cerca de 50 páginas), achei que esta primeira parte foi interessante para mostrar 'a quantas andam' os personagens da história.
Os capítulos desenrolam-se como se em cenas de novela (cada capítulo referindo-se a um núcleo de personagens, ou a um assunto), encandeando-se uns nos outros.

Estou muito curiosa para dar continuidade à leitura que, apesar da falta de tempo, se vai desenrolando aos poucos.




sábado, 13 de fevereiro de 2016

#013.03 | Lendo Guerra e Paz ♡ 03 Tomo I – 2ª e 3ª Partes

Hoje venho conversar mais um pouquinho sobre a leitura de Guerra e Paz, desta vez até ao final do 1º Tomo.

Tomo I – 2ª Parte

A segunda parte deste livro começa em Outubro de 1805 com a descrição dos preparativos da iminente guerra franco-russa.
É nesse momento, na batalha de Schöngrabern, que Nikolai Rostov, ao lado do Capitão Deníssov tem seu baptismo de fogo.

Tendo como fundo os altos e baixos desta batalha, vão-nos sendo apresentados alguns personagens como o General-Chefe Kutúzov, o General Mack, Nesvítski, entre outros. Importa lembrar que, nesta parte, embora alguns personagens sejam ficcionados, muitos dos Generais e comandantes referidos foram figuras históricas reais.
Nesta parte lemos algumas descrições de cenas de Guerra um pouco mais pesadas e, um ponto interessante neste contexto, são os pensamentos de Rostov em relação à morte e à perda.

“Quem são eles? Porque vêm a correr? Será para mim? Será para mim que correm? E para quê? Para me matarem? A mim, de quem todos gostam tanto?” Lembrou-se do amor da mãe, da família, dos amigos, e a intenção de o matarem pareceu-lhe impossível. (p. 209)

Tomo I – 3ª Parte

 No início da 3ª parte temos um regresso ao núcleo de Petersburgo e tomamos conhecimento do que decorre na vida de Pierre Bezúkhov.
Pierre, um homem agora enriquecido, graças à herança de seu pai, começa a ser visto como um bom pretendente por parte das meninas casadoiras da sociedade de Petersburgo.
Neste contexto, e prevendo os benefícios que daí poderiam advir, o Príncipe Vassíli Kuráguin força uma proximidade entre Pierre e a sua filha, Hélène.

Pierre, fruto de alguma ingenuidade, deixa-se influenciar por todo um clima de bajulação, sendo que “até as pessoas que dantes eram más e manifestamente hostis se tornaram meigas e amáveis com ele” (p.222)
Nesse grupo inclui-se ainda Anna Pávlovna que, sendo amiga do Príncipe Vassíli, também procura instigar no jovem o interesse por Hélène Kuráguina, enaltecendo as qualidades da moça a cada oportunidade.

Assistimos a todas a artimanhas desenvolvidas para juntar o jovem casal e, no final do 2º capítulo Pierre casa com Hélène.

 Depois de ter casado a filha, o Príncipe Vassíli tenta dar um rumo à vida do seu filho mais boémio – Anatole – procurando, para isso, casá-lo com uma jovem de boas famílias.
É com essa ideia que o príncipe, acompanhado pelo filho, vai visitar o velho Príncipe Nikolai Bolkónski (pai de Maria e Andrei, lembram-se?), com o intuito de que Anatole peça a mão de Maria Bolkónskaia em casamento.

Acontece que, durante o período em que Maria deve pensar na proposta, Anatole resolve envolver-se com Mademoiselle Bourienne, a dama de companhia de Maria.

Maria assiste a tudo e, estando já pouco inclinada para a ideia de se casar, resolve dedicar a sua vida a cuidar do pai, deixando Mademoiselle Bourienne livre para casar com Anatole.

 Após estes acontecimentos, voltamos ao núcleo em Guerra, regressando à Batalha de Austerlitz.
Nesta batalha, voltamos a assistir a alguns momentos tensos, entre eles o momento em que as é feita a revista das tropas russas e austríacas, sendo os mais de 80 mil homens revistos pelo imperador russo e austríaco, respectivamente acompanhados do Czarévitch e do arquiduque.

Cada general e cada soldado tinha consciência da sua insignificância, sentia-se um grão de areia naquele mar de gente, e ao mesmo tempo tinha consciência do seu poder, ao sentir-se parte daquele todo imenso”. (p.267)

Entre estas descrições, temos alguns momentos de alívio cómico, nomeadamente quando percebemos que Rostov tem um momento de paixão assolapada pelo soberano Czarévitch.

Mas tal como um jovem apaixonado treme e enlanguesce, sem ousar dizer aquilo com que sonhou à noite, e olha em volta assustado à procura de ajuda ou da possibilidade de adiamento ou de fuga, quando chega o momento desejado e fica a sós com ela, assim estava agora Rostov, sem saber como se aproximar do soberano, e surgiam-lhe milhares de considerações segundo as quais isso era inconveniente, improprio e impossível” (p. 313)

Agora tanto faz! Se o soberano está ferido, porque hei de eu tentar salvar-me?” (p. 312)

No final deste tomo assistimos ainda à cena em que Andrei cai em batalha e é feito prisioneiro por Napoleão. Contudo, para surpresa de Andrei, Napoleão trata-o com respeito e providencia-lhe cuidados médicos, entregando-o depois, aos cuidados dos habitantes locais, terminando aqui o primeiro tomo.

‘… o príncipe Andrei pensava na insignificância da grandeza, na insignificância da vida, cujo sentido ninguém podia compreender, e na insignificância ainda maior da morte, cujo sentido nenhum dos vivos era capaz de compreender nem explicar.’ (p. 319)